“Ontem eu chorei. Chorei porque minha alma estava imunda e pesada.
Chorei porque todo o meu corpo doía de um modo que afetava minha cabeça. Chorei
porque queria fugir e não tinha para onde ir. Sim, eu quis sumir. Quis cavar um
buraco no chão do meu quarto e ficar lá, quietinha. Quis me jogar na cama e
dormir, dormir por três meses. Dormir salva, e às vezes adia; adia a dor. E eu
chorei. Chorei porque a dor toma as pontas do meu mundo todos os dias. Chorei
porque estou cansada fisicamente e psicologicamente. Chorei porque a minha dor
não é a maior de todas, mas parece tão grande. Chorei, e chorei mesmo. Depois
dormi. No sono pesado feito chumbo não havia sonhos. Eu só queria alguém para
vencer comigo esses dias terrivelmente longos. Ou, eu apenas queria ter força
para vencê-los só. Eu sou uma pessoa forte, entende? Mas eu não sou de ferro.
Eu não sou de aço, de metal, de vidro, de bronze. Eu não sou dura o suficiente.
Meus pilares estão ruindo pouco a pouco, e eu estou desabando. Não quero
alcançar o chão. Não quero me perder em queda livre. Não quero cair. Você me
segura? Me carrega no colo, me nina, me embala, estou precisando de proteção,
estou me sentindo tão pequena, como uma formiguinha. Eu não gosto de me sentir
frágil, mas eu sou tão frágil. Oh, meu Deus, como eu sou frágil, e como está
doendo tanto. Quero chorar hoje também, e como quero, mas vai doer. Não quero
que doa. Quero me sentir leve e carregar menos o mundo nas costas. Quem é que
colocou o mundo dentro da minha mochila? Tira. Tira, por favor. Meu semblante
está ficando pesado e minha visão turva. Não consigo mais enxergar o bom, o
bonito. Por quê tudo é tão preto e branco? Eu gosto de arco-íris, de flores, de
cores, de cheiros. Tudo sumiu. Me ajuda a procurar? Me ajuda a me achar? Eu
estranhamente me perdi. Eu me quero de volta. Eu estou tão fria, olhe. Me toca,
me esquenta, por favor. Eu gosto do silêncio, mas eu quero o barulho agora. Eu
gosto do escuro, mas eu quero a luz. Seja minha luz. Me salve, me jogue boias,
nade comigo, me tira dessa areia movediça em que eu me afundo cada vez mais.
Estou chorando. Estou com medo. Eu falo e só ouço o eco de minha voz. Quero
outros sons, você me entende? Me entenda, por favor. Eu te suplico; me tira
daqui. Está tão frio como neve e tão escuro como breu. Não quero mais ficar só
nem me sentir só. Tudo isso só porque ontem eu chorei. Por que eu chorei? Eu
não queria chorar, mas as lágrimas tomaram controle de mim. Eu estou no
piloto-automático, eu sinto isso. Eu tenho medo do piloto-automático, ele é
tão… tão frio. Eu sou fria feito cadáver, esta vendo? Quero ser quentinha. Mas
eu já te disse isso. Quero chorar. Não. Eu não posso chorar. Quero ser forte,
só mais um pouquinho, porque se eu for forte mais um pouquinho, talvez eu
consiga enxergar as estrelas no céu. A Lua também. Quero ver a Lua também.
Quero um telescópio e ver todos os planetas. Será que algum deles me abrigaria?
Porque às vezes sinto que não sou daqui. Eu estou frequentemente fora de
sintonia, e eu estou tendo uns dias difíceis. Estou fora de órbita. Você não
vê, mas estou fora de órbita. Me põe no lugar? Sofri um deslocamento, e sinto
que a qualquer momento algo se romperá dentro de mim. Você não vê, mas é uma
batalha dentro de mim. Chove mais em mim do que lá fora. Acontece tempestades
mais em mim do que em qualquer lugar do mundo. Eu só queria que o Sol brilhasse
uma vez por aqui. Eu só queria não chorar hoje.”
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