“É madrugada e eu aqui em casa. Lá fora a garoa cai e aqui dentro faz muito frio. O celular não toca e os programas da tv não valem de nada. A casa escura e o coração vazio. Acho que é natural a carência aumentar. Sabe o que não é natural? Carregar dentro do peito a soma de todas essas coisas. Se sentir só. Existir num planeta com sete bilhões de pessoas e ainda se sentir só. Normalmente, isso não é um problema. Eu sempre me isolo e as pessoas quase nunca sabem o que realmente esta se passando comigo. Mas só agora, apenas uma vez na vida, eu não queria estar sozinha. Acho que não é pedir muito. Não precisa ser alguém pra beijar ou pra fazer sexo a madrugada inteira. Basta uma companhia. Um alguém qualquer disposto a dividir um dia tedioso. Pode ser pra assistir um filme repetido e comer alguma coisa. Jogar conversa fora ou pra dar uma mãozinha no preparo do jantar. Quem sabe ligar o rádio no último volume e ficar ascendendo e apagando a luz, só pra dar um ar de boate. Qualquer coisa, qualquer simples coisa acompanhado me faria bem agora.”
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