quinta-feira, 20 de março de 2014

Quando foi que me perdi de mim mesma ? :(

Me disseram “Você anda sumida” e me dei conta de que era verdade. Eu também, fazia tempo que não me via. O que teria acontecido comigo? Não me encontrava nos lugares em que eu costumava ir. Perguntavam por ai por mim e as pessoas me diziam “É verdade, você anda sumida”. E “Que fim levou você?” Eu não tinha a menor ideia que fim tinha me levado. A última vez em que me vira fora, deixa ver… Eu não me lembrava! Eu teria morrido? Impossível, na última vez em que me vira eu estava bem. Não tinha, que eu soubesse, nenhum problema grave de saúde. E, mesmo, eu teria visto o convite para o meu enterro no jornal. O nome fatalmente me chamaria a atenção. Eu podia ter mudado de cidade. Era isso. Podia ter ido para outro lugar, podia estar em outro lugar neste momento. Mas por que iria embora assim, sem dizer nada para ninguém, sem me despedir nem de mim? Sempre fui tão ligada a mim mesma quando que em perdi. Teve um dia desses que fui a um lugar que eu costumava frequentar muito e perguntei se tinham me visto. Não era gente conhecida, precisei me descrever. Não foi difícil porque me usei como modelo. “Eu sou uma garota, assim, como eu. Mesma altura, tudo”. Não tinham me visto. Que coisa. Pensei: como é que alguém pode simplesmente desaparecer desse jeito? Foi então que comecei, confesso, a pensar nas vantagens de estar sumida. Não me encontrar em lugar algum me dava uma espécie de liberdade. Podia fazer o que bem entendesse, sem o risco de dar comigo e eu dizer “Você, hein?”. Mudei por completo de comportamento. Me tornei - outra!E sendo outra ja nao sou mais a mesma. Que maravilha. Agora, mesmo que me encontrasse, eu não me reconheceria. Comecei a fazer coisas que até eu duvidaria, se fosse e que estava a fazer aquilo. O que eu mais gostava de ouvir das pessoas espantadas com a minha mudança era: “Nem parece você”. Claro que não parecia eu. Pois  não era eu. Esse Eu era outra! Passei a me exceder, embriagada pela minha nova liberdade. A verdade é que estar longe dos meus olhos me deixou fora de mim. Ou fora da outra Eu. Em um outro  dia qualquer ouvi uma mulher indignada com o meu desastre a gritar “Você não se enxerga, não?” E então, tive a revelação. Claro, era isso. Eu não estava sumida. Eu simplesmente não me enxergava. Como podia me encontrar nos lugares onde me procurava se não me enxergava? Todo aquele tempo eu estivera lá, presente, embaixo, por assim dizer, do meu nariz, e não me via. Por um lado, fiquei aliviada. Eu estava viva e bem, não precisava me preocupar. Por outro lado, foi uma decepção. Concluí que não tem jeito, estamos sempre, irremediavelmente, conosco, mesmo quando pensamos ter nos livrado de nós. A gente não desaparece. A gente às vezes só não se enxerga. eu não me perdi apenas nao estava conseguindo me ver.

2 comentários:

  1. Então é isso, preciso me enxergar!! Achei que eu estivesse perdida, mas penso que mudei, porém ainda não encontrei a leveza desta mudança :/

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  2. Todos nós por um tempo nos perdemos de nós mesmos. Resta saber se aquela que encontramos quando nos perdemos não é a melhor forma de nós...a mais feliz. Quem sabe? Um equilibrio. Estou em busca de mim mesma

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