segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Me vi feliz eu me encontrei *-*

Tenho uma coisa a dizer: estou livre! E é tão estranho me sentir assim. Eu queria responder que as coisas estão todas fora do eixo quando me perguntam se está tudo bem, mas elas não estão. Por incrível que pareça, está tudo nas ordens. A louça está lavada, o meu cabelo está lavado, minha alma está lavada. A casa cheira a flor e o meu quarto está brilhando de tão limpo. Meu Deus, como é estranho olhar pros lados e não ver o mundo desmoronando, meu coração se partindo aos pedaços e lágrimas rolando do meu rosto. Acreditem ou não: eu, nesse exato momento, estou sorrindo. Meus dedos não carregam dor, saudade, angústia ou qualquer outra coisa ruim. Eu não escrevo pra ninguém. E em nenhuma linha existe você, porque o “você”, definitivamente, não é ninguém. O você perdeu o nome, o endereço, o sorriso e o cheiro. O você é um vácuo eterno. E o mundo não é mais mundo. Talvez aquela antiga teoria de que “às vezes o nosso mundo vira ao avesso e, então, nós descobrimos que o avesso é o nosso lado certo” seja, de fato, certa. Eu não sei dizer se fui eu quem mudei ou se foram as pessoas ao meu redor que mudaram, mas algo mudou. E pra melhor. A minha vida está andando pra frente pela primeira vez. É tudo novo e bom demais pra ser verdade. Penso que a qualquer momento vou levar uma chacoalhada do universo dizendo pra que eu acorde e, como era de se esperar, baldes de merda cairão sobre a minha cabeça - metaforicamente falando, claro. Esse meu sorriso aberto não pode ser de verdade, pode? E essa minha animação pra sair pra festa de hoje a noite não pode ser levada a sério, pode? A minha vontade de ser feliz não pode ser real, pode? Sim, minha querida, pode. Pode e é. Tento me convencer todos os dias, assim que acordo, ao olhar pro espelho e repetir várias vezes seguidas: acabou, acabou, acabou. Acabou a dor, acabou os textos melancólicos, acabou o ciúmes, acabou a nostalgia, acabou as músicas deprimentes, acabou as lagrimas no travesseiro ,acabou a solidão. Fim do campeonato ou linha de chagada, como queira chamar. Eu só sei que eu me encontrei, depois de milhões de anos vividos aqui dentro a procura de mim. No meio da multidão, do caminho tortuoso e das curvas perigosas, eu me achei. Me achei no amontoado de coisas e pessoas que deixei, que me deixaram, que foram e que chegaram. Me achei nas músicas que eu nem lembrava que gostava, nas comidas que eu deixei pra experimentar outra hora e nas coisas que não fiz por preguiça. Me achei nas manias que eu esqueci que tinha, na minha identidade deixada de lado e na minha personalidade mais profunda. Me achei. E se eu tivesse um único pedido, eu pediria pra não me perder nunca mais. Seria meio ou até muito ridículo se eu dissesse que não sei ser feliz? Porque, desculpem-me os otimistas, mas eu não sei. Não sei não carregar saudade, não sei não sentir falta de algo, não sei não ter um ponto estável pra me apoiar. Eu passei todos os meus poucos anos vividos me prendendo a alguém ou a alguma coisa que, por menor que fosse, tinham algo em comum: doíam. Seja a dor pequena ou grande, pouca ou de muita intensidade. Eu não sei não doer, entende? É como se a dor fizesse parte de quem eu sou. Ou de quem eu era. A dor não me acompanha mais e a solidão não dita os passos da dança. A verdade nua, crua e direta é essa: eu desaprendi a dançar. Mas, não, não digo isso com um tom de voz cabisbaixo, digo isso como um grito de felicidade: EU DESAPRENDI A DANÇAR. Porque desaprender a dançar na beira do precipício é o melhor esquecimento que podemos ter. Dançar de pés descalços, na lama, na areia, na terra da vida é melhor do que sapatos apertados que fazem calos nos dedos. Veja só que ironia: até os meus miúdos dedos respiram tranquilos agora. E respirar assim, digo, como todas as outras pessoas do planeta, calmo e no ritmo certo, é diferente e bizarro pra mim. Respirar sem pena ou remorso algum de dar um passo pra frente, sem recuar 20 pra trás tem um gosto amargo, mas saboroso. Aprendi que ao longo dos anos, é natural que a gente perca pessoas, momentos e lembranças por aí. E que tentar parar o tempo pra sofrer por cada um deles é burrice. Muita burrice. Esperar demais é burrice, idealizar demais é burrice, acreditar demais é burrice, querer demais é burrice, permitir-se sofrer é burrice, entregar-se é burrice, agarrar-se é burrice… Não tem jeito, a gente nasceu e vai morrer sendo um bando de burros. E eu nunca tinha observado o mundo com esses olhos, por mais que o meu grau de miopia não tenha aumentado. No fundo, no fundo, há sim coisas boas e bonitas. Porque nem tudo é tão cinza e tão chato quanto aparenta ser. Porque existem sim pessoas legais e com um papo bacana por aí, sem que elas necessariamente tenham segundas intenções. Porque beber realmente pode melhorar tudo por uma noite e uma noite pode sim valer muito a pena. Acho que é isso: eu abracei essa causa de me fazer feliz. Parei de girar um pouco ao redor do que os outros pensam, falam, fazem ou queiram que eu faça. Parei de escrever pra alguém que nunca vai ler. Parei de tentar encontrar qualquer indicio de tristeza ou qualquer motivos chulo pra me fazer ficar em casa em um sábado a noite e lamentar o quanto sou sozinha, triste, deprimida, feia e blá blá blá. Eu queria escrever sobre todos aqueles assuntos que tocam as pessoas que sofrem por amor ou coisas do gênero, mas não consigo. Por muito tempo eu fiz de mim as palavras, hoje eu deixo que elas me façam. E isso não quer dizer que não sinto mais nada ou virei um iceberg ambulante, pelo contrário: eu sinto tudo e o tudo não me sufoca mais. Sentir não rouba mais o meu tempo, não atrasa mais os meus passos, não me engasga de uma maneira absurda. Hoje, eu sei sentir sem extrapolar as minhas emoções e as minhas vontades, sem me confundir ou me bagunçar por dentro. Desculpa, querido, mas eu vim aqui pedir a minha liberação dessa clínica especializada em tratar corações partidos. Eu estou oficialmente me retirando do grupo de pessoas-que-só-sabem-sofrer. I’m free, baby! I’m free…

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