sábado, 14 de abril de 2012



"..Ainda girarei na ponta da sapatilha até bambear as pernas, corarei suas bochechas com as minhas brincadeiras atrapalhadas. Eu ainda vou aprender a andar decentemente de skate e mandar o tão sonhado flip. Ainda farei soar as notas do violão, ainda terei meus cabelos cor de rosa. Minha casa terá passagens secretas, semelhantes a filmes de espionagem, não tenho escolha, ainda serei um dia adulta, mas que seja uma criança. Ainda pegarei um tubo, pelo qual o Sol atravessa e cria um arco-íris nítido na água. Farei torta de maça para os meus netos, brigadeiro com meus filhos. Farei cócegas na barriga do meu namorado, e entrelaçarei as mãos com as do meu marido. Casarei na praia, com um luar esplêndido. Quem disse que apenas crianças podem brincar na cama elástica? Eu digo não. Ainda terei uma cama elástica em casa. Roubarei beijo, pularei de para-quedas. Colocarei uma mochila nas costas, chamarei meus velhos amigos e os levarei para uma aventura ao desconhecido pelas montanhas. Terei uma casa na árvore. Virarei a noite na praia, logo que sair de uma festa. Passarei noites em casa, sozinha, com meu caderno, escrevendo sem fim, deixando cair apenas as lágrimas que mancharão o papel. Sorrirei ao ver meus filhos correndo pela casa, ao ver a bagunça do quarto, ao ver meus pais, já velhinhos vindo me visitar. Escreverei um livro. Estudarei moda, quem sabe virarei uma otima estilista. Ninguém sabe. Terei uma casa com piscina, água e bolinhas. Terei o mais belo sorriso. Terei aqueles abraços. Ainda vou visitar castelos na Europa, sentir aquele frio perfeito percorrer minhas extremidades até ficaram vermelhas e gélidas. Ainda farei bonecos de neve. Aprenderei a fazer coisas boas. Dormirei num trem, que vaga por pequenas vias térreas nos vales. Dormirei de conchinha. Aprenderei a falar outros idiomas fluentemente. Ainda realizarei minhas metas e sonhos. Deixarei minha sujeira para trás, as marcas cicatrizadas e os espinhos sem ponta. Tirarei fotos preto e branco, que ficarão manchadas, amareladas, com o tempo, mas resguardarão deliciosas gargalhadas. Ainda vou deixar a timidez de lado, viverei com garra. Me dedicarei com foco. Aprenderei a desenhar. Ainda me apresentarei num enorme palco, para dezenas e dezenas de pessoas olhando. Ainda vou cortar o cabelo da forma mais inusitada possível, e trocar meu estilo. Só pra experimentar. Tomarei café com biscoitos, numa grande livraria. Levarei quem eu amo para andar de pedalinho. É reconfortante saber que ainda posso fazer muito, e atordoante saber que não em tanto tempo. Um dia a maquina quebra, e depois que ela enferruja nem óleo a concerta mais. Não deixe a sua maquina quebrar. O mundo provavelmente está desta forma porque as peças estão deixando de funcionar. As pessoas não fazem o que realmente pretendem. Realizam o reflexo dos seus medos. Elimine o medo, lubrifique suas forças e parta para a luta, caro leitor. Você ainda tem uma lista de coisas para se realizar antes de morrer..."

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