segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Me tornei aquilo que eu nao queria !!

Vejo as minhas mãos calejadas e percebo o quanto já lutei, cai e me reergui nessa vida. A minha cabeça dói. As lembranças pesam, os dias pesam, as lágrimas pesam e muito. Tudo pesa. O passado atormenta e o futuro amedronta. A respiração ofegante é a prova de quantos monstros derrotei durante o caminho. Não é a fácil estar sempre tão só, mas com o tempo a gente se acostuma. Se você me conheceu há primaveras atrás, provavelmente se assustará em me encontrar no fundo do fundo do fundo do fundo do poço. Existem mais do que sete palmos de chão acima de mim, mas eu ainda estou viva. Disse bem: Ainda. O meu corpo vaga por entre bueiros e lixões imundos, enquanto a minha alma repousa em um lugar que eu não sou capaz de chegar nunca. Veja só a ironia: até mesmo a minha alma não suportou viver dentro da minha conturbação e fugiu de mim. Todos sempre fogem de mim. E eu continuo correndo e me escondendo de todos. O sol é feio porque cega a minha visão. A lua não é bonita porque me lembra a escuridão que me ronda. As estrelas são odiadas por conseguirem brilhar sozinhas. E eu continuo me contorcendo o máximo que posso pra excluir o resto do mundo do meu mundo. Antes eu era leve e transbordava amor por tudo isso, moço. O céu continuava cinza, mas eu amava o colorir. Eu amava as roseiras da casa do vizinho, a espuma do barbeiro e o livro que eu não terminava de ler nunca. O amor fazia parte de mim mais do que eu, por isso um dia ele me consumiu e se transformou em raiva e nojo. A minha vontade, agora, é de chacoalhar o tal executivo apressado que passa por mim na rua e lhe dizer pra parar de correr contra o tempo, porque eu também corria de tudo e hoje o tempo me estagnou. Hoje o tempo me tomou o tempo e eu não tenho mais tempo pra nada. Se uma coisa que aprendi nesses poucos anos vividos, essa coisa foi que não adianta a gente querer voltar o ponteiro dos relógios. Cazuza disse uma vez: o tempo não para! E vejam só, também parou pra ele. Aos poucos o tempo para pra todos nós. Uma grande conhecida minha que, na verdade, também já foi uma grande amiga, companheira e confidente, hoje me esconde o olhar. Ela não me reconhece mais e eu não tenho do que reclamar: eu também não me reconheço. Quem é essa no espelho que está na minha frente? De quem são esses pés perfurados? E essa rosto pálido pertence a quem? Sou eu. Eu sou todo esse bolo enrolado que me tornaram. Tenho o impulso de espremer o universo até ele me devolver a inocência e o carisma que habitava em mim. Eu era plena de felicidade e hoje me sinto plena de mágoas. Algo, no fundo, me diz que não sou uma pessoa ruim. Ruim mesmo são todos vocês que me fizeram ser o que eu disse que jamais seria. A chuva não me molha mais, porque chuva é coisa da natureza e a natureza é boa e consequente só atinge as pessoas boas também. Eu não tenho um coração ruim, mas me fiz de alguém incapaz de amar. Quando eu era doce feito mel e delicada como uma flor, as pessoas abusaram da minha boa vontade e das minhas boas intenções. Agora sou feito rocha, me esquivando de qualquer indicio de afeto e sorrisos formidáveis. Meus ombros doem, pois carreguei durante todo esse tempo bagagens desnecessárias e sentimentos que não valem a pena. Roí todas as minhas unhas pela esperança de dias melhores. Cansei de me importar com coisas que ninguém valoriza. Cansei de fazer das tripas coração por quem não me faz sequer de primeira opção. Estou cansada de tudo e sinto que tudo também está cansando de mim. A vida nem sempre é justa e o destino nem sempre é belo. Não vejo a hora de fechar os olhos e dormir para sempre, mas esse meu pensamento está errado. O mundo não deveria acabar todos os dias de formas tão violentas assim que acordo. Você não entende? O ar não tem mais cheiro de ar e o verde agora é roxo. As coisas perderam o sentido e eu me perdi de mim. Isso não é certo.Eu ainda tenho apenas vinte e poucos anos.

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