segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Vai ver a gente não soube amar direito :(

(…) Vai ver a única coisa que me atava à você, era esse laço bem feito, bonito, desses de presentes sempre piores do que o embrulho apresenta, e frágil, que se desfaz com um singelo puxão, e que se alguém resolvesse rebentá-lo, seria isso e pronto. Vai ver a gente se inventou esse tempo todo, tentando acreditar que nós dois juntos, no fundo, éramos certos, enquanto sabemos muito bem que tudo isso não passa de uma criação da nossa memória cansada de toda essa tragédia contemporânea. Vai ver nosso amor fosse mesmo esse quebra-cabeças de três mil peças que, olhando o modelo na caixa, talvez até valesse o trabalho de montar. Mas, poxa vida, são três mil peças. E eu detesto montar coisas. Vai ver a permanência das minhas mudanças fizeram mesmo você se cansar, mudar pra bem longe e dizer que já vai indo. Vai ver não é que eu não soube cuidar e deixei você ir. É que, talvez, eu simplesmente quis que você fosse. Em outro caminho. Vai ver todas essas pétalas costuradas uma a uma por uma agulha negra, já não enfeita mais a casa. Vai ver o rio torto já se perdeu pela neblina. Vai ver os fantasmas que criamos pra vencer o tédio começaram a ter medo da gente e resolveram nos assustar. Vai ver todos esses berros silenciosos em nossos tímpanos de meninos, rasgaram nossa memória com gritos repentinos pra quem está sempre atrasado. Ou pra quem já esteve por aqui por tempo de mais. Vai ver fomos de mais. Fomos felizes de mais. Não que a felicidade fosse insípida, mas é que ela por si só, não rende história. Como nos contos de fada “E eles viveram felizes para sempre” é sempre a última frase, de uma coisa toda mal terminada. Vai ver fomos de mais. Fomos tristes de mais, como um desse pássaros raros, irrequietos, irritadiços, fáceis de assustar, e assim que um de nós arriscava exclamar “olha só que lindo”, ele levantaria voo na hora. Vai ver teu amor foi muito, vai ver meu amor foi pouco. E a gente se embriagando em doses desiguais de retinas que alimentavam ainda mais o asco de últimos olhares em portas de elevador… De prédios mal assombrados… De apartamentos vazios de gente cheia de vida e amor pra dar. Vai ver o adeus, fora mesmo, a única saída pra essa dor que chegou de repente e foi ficando de vagar.

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