Certa vez perdi o grande amor da minha vida. Confesso, com todo o drama que exige uma boa fossa, que meu mundo caiu. Chorei muitas vezes seguidas as lembranças sempre viam a tona e chorar era inevtavel. Mas chegou um certo dia e eu me levantei e fiz o que tinha que ser feito: seguir em frente. Claro, que por algum tempo não fui feliz. Mas percebi, como numa tragada de inspiração, que o amor da minha vida era completamente substituível. De lá pra cá, perdi outros amores da minha vida e continuo de pé – e sorrindo, se quer saber.Perdi também uma grande amiga. Ela não morreu para o mundo, mas pra mim, sim. Pois numa briga idiota dizemos e fazemos coisas que melhores amigos nao fazem e descobri muita mentira e traição e no final entendi que a amiga fui apenas eu. Ai entao encontrei muitas outros melhores amigas – algumas me traíram, algumas me consolaram, e algumas foram embora. E tem outras que chegaram e nunca partiram estao comigo ate hoje. Ea cada dia vai chegando mais e mais amizades novas.Noutro episódio triste da vida, perdi dois empregos – que tinha concomitantemente – na mesma semana. Então me venho as crises e me desesperei. Chorei por umas horas, refiz o orçamento e me ajustei, novamente, ao caos da vida como pude. Encontrei outros três empregos nos meses seguintes. Alguns me fizeram feliz, outros não, e a todos perdi. E outros sempre chegaram.A única certeza que temos na vida é de que, vez ou outra, perderemos. As pessoas vão embora, as crises vão chegar, nossos amigos vão nos trair. As perdas são essa realidade cruel que precisamos aceitar – e tirar proveito, sempre que possível.O barato disso tudo é que, sempre que perdemos algo importante, temos a oportunidade de enxergar com uma clareza que só a tristeza proporciona as tantas outras coisas importantes que ainda temos. E de perceber, com a perspicácia que só as crises nos trazem, as outras tantas coisas importantes que chegarão. As perdas têm a indispensável função de nos fazer renascer. Cuidar do que ainda temos e lutar pelo que precisamos.Não tenho piedade dos bons perdedores – mas aqueles que ganham sempre, coitados, não têm a chance de enxergarem-se tais quais são: humanos, errantes, passíveis de terríveis perdas e, sobretudo, capazes de reconstruir qualquer coisa que seja. E de deixar partir o que não lhes pertence.Vencer é maravilhoso, especialmente para quem merece. Mas só na tristeza das perdas encontramos a delícia de renascer. Ame as suas vitórias, mas, sobretudo, as suas sábias perdas – elas sim nos apuram o paladar para o gosto bom de ganhar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário