segunda-feira, 22 de junho de 2015

Tenho andado um caco :(

"Eu aprecio a solidão. e nela eu me encontro todas as vezes que me perco nos incontáveis sentidos que carregam minhas tristezas mais profundas. mas vez em quando, confesso, queria poder me livrar dela. Me livrar dessa sensação de ser apenas uma partícula de nada, vagando pelo espaço. me livrar dessa mania incessante de tentar encher os pulmões de vida, mas sentir que o oxigênio também pode ser tóxico. nesses dias, não é só como se o mundo não fosse capaz de abrigar minhas insanidades mirabolantes, mas é como se ele fosse pesado demais pros meus ombros frágeis. e como se todo o vazio que mora em mim não fosse de fato abrigável. têm coisas que se escondem lá nos escombros de nós, talvez o que há de mais putrefato. e insistem em nos assombrar nos dias em que a gente esquece uma fresta do coração aberta. eu só queria caber em algum lugar. me encaixar em algum canto e não me sentir mais assim, tão vazia e só. será que sou mesmo assim, tão infestada de elementos corrosivos que vão me comendo pelas beiradas até não sobrar nem mesmo a minha carcaça seca e fria? olha só o que a solidão faz, meu Deus. bota a gente de frente com os nossos demônios, presos entre quatro paredes como pássaros engaiolados. e é aqui que eu deságuo. é aqui nesse papel encharcado que eu choro através das palavras. é aqui nessa folha borrada que os meus dedos choram a dor de ter que sobreviver aos pesos que a vida de um poeta solitário traz, que me fazem padecer no escuro desse quarto. a solidão é a morte mais presente, a única que nos pertence, mesmo quando não conseguimos pertencer a lugar nenhum. no exílio que faz morada entre essas paredes, eu sou só mais alguém dilacerado. um quebra cabeça que se perdeu das peças e não sabe como existir sem suas partes. alguma alma vagante que teve seus fragmentos espalhados por aí e não se encontra. a verdade é que a gente finge que se aceita só pra caber no mundo de alguém, mas no fim do dia, quando a cabeça finalmente afunda no travesseiro, nos afogamos na tristeza de ser, nada mais do que nós mesmos, a essência pura de tudo o que não queríamos ser, de tudo que queríamos que fosse melhor, mais leve, bonito e sossegado. a gente constrói muralhas em volta do nosso sentir desenfreado, só pra evitar o nosso próprio desmoronamento, mas no fim, só conseguimos vagar desnorteados. os fantasmas do quarto sussurram e dançam ao som de Radiohead e os versos ecoam pelos meus tímpanos fazendo tudo aqui dentro sangrar. eu tô sofrendo de uma hemorragia que não estanca e os olhos escuros da noite estão pregados em mim. sou tão pequena, tão breve, tão pouco."

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