domingo, 24 de novembro de 2013

Eu so quero que escute o meu amor *-*

Não há mais paredes ao meu redor, meus pés andam soltos por ai em busca do que tem a capacidade de renascer das ruínas e clamar pelo paladar fresco de um primeiro amor.Sou uma jovem mulher, de corpo "perfeito", torneado pelos palcos da vida, marginalizada nas coxias em que te encontrei. Me julgo ser de fato uma auto-aprendiz de feições delicadas e alma voraz, indomável, corajosa e cruel.Talvez seja por isso que hoje ando pelas ruas da minha cidade, recitando meus versos, arrastando meus avessos, arrancando olhos, completando minha coleção. No chão do meu quarto, guardo uma caixa incompleta de reações, expressões extirpadas dos rostos de todos que passam e olham pra mim.Minha sanidade? Vou me livrando dela a cada esquina, botequim, copo sujo, a cada palavra cuspida, a cada refrão.Afinal, de que me valeria amar tanto se nela fizesse meu descanso? Quero gritar, explodir teu tímpano com minhas obscenidades e indecências pagãs. Gemer alto ao te ter nos meus braços, deliciosamente te engolindo, no massagear dos corpos, acordar o vizinho simpático de cara amassada e pijama xadrez.Vou em busca da liberdade de espirito mesmo sabendo que esta só a morte me trará. Faço da minha estrada um jardim de flores de gelo que derretem e escoam pelas bocas de lobo das avenidas no centro da capital.E assim apesar da minha condição limitada de ser o que sou, um ser humano inócuo e medíocre, de amor imprestável, pelo ou menos imprestável para ti, de palavras vãs e impermeáveis, eu tenho os meus sonhos, vou andando pelas ruas, a pé ou de carro, descarrego meu coração nas lixeiras pelo caminho, vou parando de respirar, meus olhos fundos de tanta cachaça, um sorriso inexistente, meus pés sujos e descalços de tanta ilusão, minha alma devastada e corrompida pelo futebol das quartas-feiras fatídicas, pelo beijo sussurrado no celular nas madrugadas de quinta, pela sorveteria da esquina, por tantas chamadas não atendidas, pelo teu medo ou falta de coragem de me amar, pela minha alma apaixonada e entregue de bandeja.Eu quero fabricar o ar, ser uma nuvem tímida a vagar no alto do mundo no céu azul. Avistar teus olhos , teus gestos, teus atos e descansar. Minha visão panorâmica me permitiria observar as relações frágeis dos minúsculos moradores deste vasto precipício, uma teia complexa e difusa de impressões corriqueiras. Não fala nada baby, eu quero apenas que me escute. Eu preciso que escute o meu amor.Meu caro  deixe-me roubar tua concepção minimalista da vida me dê a honra de traduzir o inevitável. Pontinhos vermelhos assinalam a presença de seres rotineiros e intemperamentais que vagam rumo ao suicídio na esfera azul.E eu volto à condição humana, no meio de tudo, caminho pela principal avenida .O amor, meus caros amigos, sem sombra de dúvida, é a atmosfera mais propícia a cena perfeita do beijo que declara sua existência, sua despedida e a sua morte! Como dizem, é borboleta com asas frágeis de colorido impressionante. E para aqueles que julgam ser comestível, cuidado! Cometem o erro clássico do engasgo ao comer algo essencialmente livre e portando indigesto, assim como as borboletas! Depois de uma análise profunda me precipitaria nas suas débeis cabeças numa tempestade devastadora. Eu posso parecer maluca, mas eu quero apenas que me escute. Eu preciso que escute o meu amor.Eu quero fabricar o vento, ser um ciclone e rodopiar como um pião sobre a terra, devastar o teu pensamento rude que renega a fragilidade de estar me amando, és vespa inconsolável, tão frágil que se despedaça no olho da tempestade, és lasca de ilusão.Eu quero fabricar o calor do sol, esquentar tuas costas, tuas palmas, teu corpo cansado. Eu quero te ter, meu menino, todos os dias, sob os meus lençois cor de rosa. Misturar na tua vodca o elixir do encantamento, da ilusão tão boa de se viver. Eu quero esquecer a tua previsibilidade, quero te tornar novamente meu. Será que restou algo aí? Será que teus princípios de vida te impedirão de entender que não há o que perder? Não me encho de esperanças. Eu quero apenas que me escute. Eu preciso que escute o meu amor.Me desculpe criança, enquanto não te alcanço me delicio nos leitos dos mendigos da cidade. Me contento com os restos de comida do restaurante da estação. Talvez até a amanhã de manhã, talvez até quarta que vem, talvez para sempre até que a bendita morte me acene com um adeusinho.E jamais pense que não sou feliz, hoje me divirto com tudo isso, meus amigos tocam violão em torno da fogueira em plena praça , o fogo exala o calor que morna as almas de quem se livrou da vida, se encheu de poesia e proferiu o amor.Eu estou bem, mas preferia que estivesse aqui. Então escuta como é lindo, meu bem. Eu preciso que você escute o meu amor. 

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